Everybody hurts someday.
POV – Hayley Williams
Subi as escadas depressa e fui falar com
Sarah. Como já tinha dito, ela não é uma pessoa de mostrar que está sofrendo
para ninguém, então, se ela aparecer chorando na sua casa, é uma espécie de
alerta vermelho. Ela realmente precisa de ajuda. Abri a porta do meu quarto e
vi Sarah sentada na cama, com os olhos inchados e vermelhos. Sentei-me ao seu
lado e encostei sua cabeça em meu ombro, abraçando-a e dizendo coisas como “em
breve tudo ficará bem”. Mas a verdade é que eu não acreditava nessas palavras.
Os pais de Sarah estavam tendo brigas constantes desde o começo do ano,
geralmente por causa de ciúmes.
- Ele estava com outra, Hayley! Ele estava
com outra no escritório dele! – disse ela aos prantos. – Por que ele fez isso?
– na hora que fez a pergunta, ela começou a soluçar.
- Talvez os seus pais não estivessem
felizes no casamento, Sarah. Às vezes o amor se desgasta. Às vezes o amor é
confundido com outro sentimento, e demora muito tempo para perceber que não era
amor, e sim apenas uma amizade – respondi.
- Mas não tinha necessidade de uma
traição! Se ele não sentia mais esse amor pela minha mãe, que ele contasse para
ela! Que eles fizessem uma terapia de casal! – disse ela, ainda mais nervosa.
- Sarah, se acalme, okay? Tudo vai ficar
bem, talvez a sua mãe perdoe o seu pai. Talvez eles continuem juntos! – falei.
Talvez essas palavras positivas a animem.
- Eu só... Eu acho que dessa vez ele não
volta para casa, Hayles – disse ela. O choro cessou, mas ela está com um rosto
abatido e continua nervosa.
- Okay, você quer alguma coisa? Água,
sanduíche, suco, fruta, refrigerante, sorvete? – comida sempre alegra as
pessoas, esse é o meu lema.
- Sorvete!
Desci, fui até a geladeira, peguei o pote
de sorvete de flocos e duas colheres. Sim, nós vamos tomar sorvete direto do
pote, problema? Somos duas adolescentes, uma apaixonada e a outra magoada. Isso
significa que nós acabaremos com o pote de sorvete em aproximadamente 10
minutos. Também peguei o DVD de “Querido John” e subi as escadas, mas dessa vez
com mais calma que o normal, porque quando você é desastrado e está com comida
e coisas que quebram na mão, é bom tomar cuidado.
Entrei no quarto, dei as colheres e o
sorvete para Sarah e mostrei para ela o DVD. Ela entendeu o recado. Quando
acontecia alguma coisa com uma das meninas, nós nos reuníamos na casa de uma,
levávamos sorvete, salgadinhos, chocolate, pizza e outras gulodices e víamos
filmes melosos, cantávamos e dançávamos e depois falávamos da nossa situação,
não necessariamente nesta ordem. E posso dizer que não há terapia melhor do que
essa.
- Quer que eu ligue para elas ou você faz
isso? – perguntei para Sarah, mas não foi necessário, porque ela já estava no
telefone.
- Então qual é a emergência? – disse
Dakotah, que veio junto com Katt. – Sarah me ligou e disse para vir pra cá
rápido.
- Meus pais, Dak. Eles brigaram de novo e
pelo visto meu pai traiu minha mãe com alguma vadia. Ele saiu e levou uma mala,
e ela disse para papai que ele “fez o melhor para me mostrar amor, mas ele não
sabe o que o amor é” – disse Sarah. Ela já tinha parado de chorar, mas toda vez
que tocava no assunto, parecia que estava prestes a desabar. Não consegui
evitar, quando ouvi o que Sarah falou, procurei rapidamente um bloco de papel e
uma caneta, anotei a oração.
- Hayley, o que você está fazendo? –
perguntou Katt.
- Desculpa, é que esse negócio que a sua
mãe falou... Sarah, eu fiquei inspirada, me desculpe, foi um péssimo momento,
eu sei – falei. Nossa, eu sou uma péssima melhor amiga. Fui ter um acesso de
inspiração sobre um problema dela.
- Quando você ganhar um Grammy com essa
música, o prêmio vai ficar na minha casa – ela respondeu. Essa é uma das coisas
que eu amo na Sarah, ela consegue fazer piada em qualquer situação, sobre
qualquer coisa. – Falando de música... Quem quer ir comigo no show da Panic! At
The Disco, semana que vem? – para quem não sabe a Panic! At The Disco é uma
banda local que tem feito certo sucesso pela região. Não, ela não é country ou
coisa do gênero, é uma banda de Rock. Sim, rock no Tennessee, um milagre.
- Eu quero! – eu, Dakotah e Katt
respondemos em uníssono. Já mencionei que meus amigos tem um ótimo gosto
musical? Bem, nós temos.
- Vai ser em Nashville, então talvez nós
tenhamos que dormir num hotel, e...
- Não precisa, Sarah. A gente pode ficar
na casa do meu pai, tenho certeza que ele não vai se incomodar. Só preciso saber
que dia será, pois sexta tem o show de talentos – disse animada. Vou aproveitar
e dar um abraço de urso em McKayla e Erica, eu sinto falta delas. Que foi? Só
por que eu amo minhas irmãs eu sou estranha? Bem, eu já disse que não sou
normal.
- Não, é no sábado. Bem, então vocês tem
que falar com os seus pais e está tudo resolvido.
- Eu só espero que você não dê uma de fã
desesperada e berre coisas como “Brendon, me come!” ou “Ryan gostoso!” – falei,
arrancando gargalhadas de todas na sala. Ouvi um barulho e porta e deduzi que
era minha mãe.
- FILHA, CHEGUEI! – gritou mamãe, e logo
depois ela foi ao meu quarto para falar comigo, quando ela dá de cara com as
meninas. – Pelo visto você está acompanhada, meninas, como estão? Sarah, por
que você está com os olhos vermelhos? ‘Tá com conjuntivite? Eu tenho um colírio
muito bom, e...
- Tia Cristi, é que meus pais vão se
separar... mas já está tudo bem – disse ela, agora tranquila.
- Ah, Sarah, que pena! Espero que você
esteja bem – mamãe falou. – Hayley sofreu bastante com o divórcio, mas a música
ajudou bastante, foi uma espécie de válvula de escape. Espero que você ache a
sua.
- Assim espero... Bem, amanhã minha mãe
falou que vai procurar um advogado e quer que eu vá junto, então eu vou faltar
à escola.
- Se precisar falar com alguém, liga pra
gente, okay? – disse Dak. – Gente, tenho que ir para casa, beijos.
- Eu vim de carro, se quiserem carona, eu
também tenho que ir – avisou Katt, a única de nós quatro que já tem idade
suficiente para dirigir.
- Eu aceito a carona, minha mãe também
deve estar preocupada – Sarah se levantou e me deu um abraço apertado. – Tchau!